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Notícias - Sustentabilidade Santander

Uma corrente poderosa

Criado em 2013, o Centro de Atendimento Especializado está mudando a história de crianças e adolescentes com deficiências ou dificuldades de aprendizado

Fotos: divulgação / Centro de Atendimento Especializado

15/10/2019

Poder perceber e compartilhar o mundo, para quem tem algum tipo de deficiência, requer um processo educacional amoroso e persistente, capaz de ver o indivíduo em cada aluno. Para quem vive em isolamento social, no entanto, a chance raramente se apresenta. Em Cruz do Espírito Santo (PB), a 30 quilômetros de João Pessoa, grande parte da população vive na zona rural. Distante dos recursos da cidade, o isolamento impacta ainda mais os filhos nascidos com alguma deficiência intelectual, sensorial ou motora.

Esta era uma realidade observada há bastante tempo pela psicopedagoga Antônia Batista da Silva, coordenadora do Centro de Atendimento Especializado (CAE), criado em 2013 para atender crianças e adolescentes com deficiências ou dificuldades de aprendizado dos assentamentos rurais.

Com os recursos que chegaram por meio do Amigo de Valor, em 2018 o projeto conseguiu financiar equipe, material pedagógico, transporte e alimentação dos alunos. “Esses recursos representam metade dos custos dos 150 atendimentos que realizamos”, explica a coordenadora. “Raramente conseguimos um aporte dessa grandeza".

No total, 18 pessoas trabalham no projeto, entre pessoal técnico, suporte administrativo e o pessoal da cozinha. Da equipe de especialistas, fazem parte uma psicopedagoga, pedagogos, assistente social e professores de música, dança, teatro e educação física.

O CAE ainda conta com um corpo de voluntários. Mas o que mais entusiasma a equipe é o projeto interno de voluntariado com os adolescentes. “Eles chegaram aqui crianças”, conta Antônia. “Eram desacreditados e hoje são monitores”.

Quem já faz parte dessa corrente de solidariedade, é a Letícia Vitória da Silva Tavares, uma garota surda de 16 anos, hoje é monitora. “Ela ajuda a ensinar a linguagem dos surdos para os alunos e já participou como assistente das oficinas para os professores do município”, conta Antônia. Prestes a terminar o ensino médio, Letícia pretende buscar o superior.  “Antes, eu sonhava em ser professora e agora, depois do projeto de monitoria, vejo que é possível. Descobri no CAE que gosto de ensinar.”

Letícia Tavares, de 16 anos, agora ensina a linguagem dos surdos para outros alunos e professores do município.

Parceria com as escolas

Há dois anos, o CAE passou a concentrar suas atividades na educação. “Vamos à escola, ministramos a formação e os professores vêm aqui”. Com a nova estratégia, ficou perceptível a melhora no desempenho escolar. Em 2018, foram incluídas aulas de música, dança e esportes. “Essas oficinas ajudaram os alunos com deficiência a ter mais participação social, a ponto de surpreenderem a própria família”, diz Antônia.

Maria José de Macena lembra como o filho Murilo, de 11 anos, chegou ao projeto. ”Só aceitava comida pastosa, não falava, não suportava ruído nem ser tocado. Hoje, sabe o nome dele, fala, se enturmou, brinca muito, toca instrumentos, come sozinho, vai ao banheiro sozinho. Gosta de se perfumar“. Mais desenvolto, Murilo dá um novo significado à vida escolar. “Agradeço ao CAE pelo que ele conquistou“.

A instituição adaptou o material de trabalho a cada necessidade, como a linguagem de surdos. “Para os que aprendem libra, estruturamos o curso Libra Cidadania, voltado para as atividades da vida cotidiana”. As crianças aprendem como se cuidar, fazer compras, se comunicar e conhecer os seus direitos e deveres.

Destaque

"Depois que eles passam por essa formação, há um avanço no jeito de se posicionar na vida. "

Antônia Batista da Silva

Coordenadora do Centro de Atendimento Especializado (CAE)

Paixão pelo aprendizado

A capacidade de atendimento é de 100 crianças, adolescentes e jovens, mas esse limite acabou sendo superado por imposição da realidade. Atualmente, há 150 beneficiários e ainda faltam muitos. “Temos duas listas de espera – uma para quem tem deficiência e outra para dificuldade de aprendizado”, diz Antônia. O próximo passo será avaliar a evolução desses meninos e meninas para liberar os que apresentaram melhora e, assim, dar lugar a quem ainda está desassistido.

A alegria de constatar a transformação no dia a dia se estende às crianças com dificuldade de aprendizado. “Não era apenas o déficit de leitura e escrita, elas apresentavam problemas de comportamento. Eram consideradas o terror da escola. No projeto, descobriram a paixão pelo aprendizado e amadureceram o desejo de ajudar os outros. Hoje dão suporte especial aos autistas.”

Em silêncio, a corrente continua a criar seus elos. A coordenadora do CAE não esquece a história de Maria Elizabete da Silva, uma mulher surda, de 31 anos, moradora na área rural. Não foi à escola, não tinha muito contato com a comunidade. “Depois que descobriu a libra, ela conheceu um rapaz também surdo, chamou-o para o projeto e hoje estão casados. São avanços que dão sentido ao que fazemos”, diz Antônia. “Histórias em que a gente vê os frutos.”